Quando o egoísmo está em ação, até mais conhecimento torna-se algo ruim =Publicação: Royal Society Open Science =>Diário da Saúde
Mais conhecimento é sempre bom? Nem sempre. Ou, pelo menos, não o é quando o egoísmo está em jogo.
Um aumento no conhecimento pode ser algo ruim quando as pessoas o usam para agir em seu próprio interesse, em vez de usá-lo no melhor interesse do grupo maior ou da coletividade.
É o que acabam de demonstrar Kaushik Basu e Jorgen Weibull, da Universidade de Cornell (EUA), em um estudo que eles chamam de “a maldição do conhecimento”, que mostra como até mesmo o conhecimento pode ser usado para reduzir o bem-estar humano.
O estudo mostrou que, mesmo para um grupo de indivíduos racionais, um conhecimento maior pode sair pela culatra. E um conhecimento aprimorado sobre uma realidade existente – como o custo-benefício de usar uma máscara facial para ajudar a prevenir a disseminação de doenças – pode dificultar a cooperação entre indivíduos puramente interessados em si mesmos.
“Nós presumimos que uma descoberta científica que nos dê uma compreensão mais profunda do mundo só pode ajudar,” detalhou Kaushik Basu. “Nosso estudo mostra que, no mundo real, onde muitas pessoas vivem e se esforçam individualmente ou em pequenos grupos para se darem bem, essa intuição pode não se sustentar. A ciência pode não ser a panaceia que achamos que ela seja.”
Salvaguardas
Os dois pesquisadores trouxeram isso para o mundo real mostrando que uma descoberta científica que não acrescenta nenhuma opção nova, simplesmente aprofundando a compreensão sobre os ganhos e suas variações, pode piorar a situação geral. Isso inclui situações como elaborar políticas sem conhecer os contornos completos de um problema.
“Ao chamar a atenção para esse resultado paradoxal,” disse Kaushik Basu, “nosso artigo insta os formuladores de políticas, e até mesmo os leigos, a pensarem em ações preventivas, acordos e compromissos morais que nós, como seres humanos, devemos tomar e fazer para evitar desastres que os futuros avanços científicos podem causar. A ciência pode gerar enormes benefícios, mas precisamos de salvaguardas. Quais são elas, não sabemos. Mas o estudo nos insta a prestar atenção a isso.”
Maldição do conhecimento
Basu e Weibull usaram a teoria dos jogos, uma das ferramentas mais usadas nos estudos de Economia, para mostrar que a “maldição do conhecimento” pode acontecer se apenas algumas pessoas tiverem acesso ao conhecimento mais amplo.
Na simulação, cada jogador tem duas ações para escolher, o que dá quatro combinações de ações, cada uma com recompensas para ambos os jogadores. Cada jogador escolhe maximizar sua própria recompensa.
No entanto, se outro conjunto de opções for adicionado, introduzindo a chance de que o outro jogador não ganhe nada, junto com uma opção de uma recompensa muito pequena para ambos, a pequena recompensa mútua se torna mais atraente. Em outras palavras, mais “conhecimento” pode levar a piores resultado para o conjunto, com os dois ganhando menos. A situação cria uma versão do Dilema do Prisioneiro, em que dois prisioneiros podem cooperar para benefício mútuo ou um deles trai seu parceiro para obter uma recompensa individual.
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