13 respostas às perguntas mais frequentes sobre o amor
Para Luís Vaz de Camões, “o amor é fogo que arde sem se ver”; para William Shakespeare, “o amor não se vê com os olhos, mas com o coração”; para Antoine de Saint-Exupéry, “amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção”; para Victor Hugo, “a suprema felicidade da vida é ter a convicção de que somos amados”.
Podíamos continuar com muitas outras citações de autores famosos, porque o amor tem muitas definições e é figura central da literatura, tal como é das nossas vidas, de filmes, de músicas, da História.
Na verdade, cada um de nós tem uma definição para este sentimento, mas há dúvidas que o rodeiam que são mais ou menos comuns à maioria das pessoas, por isso, estivemos à conversa com Eduardo Torgal, coach especialista em relacionamentos e autor do livro Guia Definitivo Para Amar, e com Joana Gentil Martins, psicóloga, que acaba de lançar o livro Torna-te o Amor da Tua Vida, que aceitaram o desafio de nos responder a algumas dessas questões.
Sente-se com a sua cara-metade e em conjunto aprendam mais sobre o que é amar outra pessoa e a si mesmos.
13 respostas às perguntas mais frequentes sobre o amor
1. A química é importante para o amor?
“Naturalmente, mas a química desenvolve-se permanentemente. No início de uma relação, pode haver muita química associada à paixão e ao conjunto de hormonas que se desenvolvem nesse momento, mas, com o passar do tempo, é normal que as pessoas não estejam sempre apaixonadas”, salienta Eduardo Torgal.
“No entanto, há quem que fique viciado nessa adrenalina e conjunto de emoções, e, quando não as sente, ache que a relação já não faz sentido, mas é precisamente o contrário. Numa fase inicial, somos movidos e estamos apaixonados por uma imagem que idealizamos da outra pessoa e que ela nos transmitiu”, acrescenta.
“Quando estamos na fase do amor, que pressupõe persistência e continuidade, já não temos necessariamente o mesmo pico de hormonas, mas começamos a ver as pessoas de forma mais clara, começa a aparecer a admiração e o respeito, que são pontos fulcrais numa relação”, conclui.
2. O amor nasce, cresce e transforma-se?
“Há duas frases interessantes para se perceber o que é a paixão e o amor. A paixão pode ser descrita como ‘não te vejo, mas tu moves-me’, e isto significa que não se vê o outro na realidade, mas através de uma imagem idealizada; já o amor é ‘vejo-te, mas não me movo tanto’ no sentido em que já não se conversa até às 3 horas da manhã, mas ama-se e há uma capacidade de respeitar os limites de cada um, há uma transformação”, explica o coach especialista em relacionamentos.
“A paixão e o amor são a evolução um do outro, no entanto, há quem não se apaixone e sinta amor e há quem seja de tal maneira viciado na primeira que, quando ela diminui ou termina, acaba o relacionamento. Nas relações duradouras, há momentos de paixão em que membros do casal estão mais próximos e outros menos, e é muito importante perceber que, no amor, essas oscilações são naturais”, remata.
“Se se entender isso, compreende-se que algumas coisas que acontecem numa relação merecem uma conversa franca e sincera e não o fim do relacionamento ou um conjunto de comportamentos que levam a isso”, afirma.
3. Num relacionamento, as pessoas devem mudar pelo parceiro ou mudar com o parceiro?
“Mudar outra pessoa é o princípio do fim da relação; inclusivamente, a pessoa que transformou a outra perde o encanto por quem se apaixonou. É irónico, mas é o que acontece. Agora, ao longo de uma relação amorosa, as pessoas mudam e evoluem, há coisas que se fazem no início de uma relação que, com o continuar do tempo, com os filhos, com as novas rotinas, irão modificar-se”, afirma Eduardo Torgal.
“É preciso encontrar pontos em comum com os quais o casal, em conjunto, decida crescer. Se isso for possível, a relação cresce e acaba por ser construída a dois; se uma pessoa transformar a outra, apenas uma se sentirá como construtora da relação e a outra vai perder-se dela”, finaliza.
4. Pode-se encontrar a pessoa certa no momento errado?
“A pessoa certa aparecer no momento errado e a errada no momento certo; acontece muitas vezes. A questão é o quanto estamos cientes disso. No primeiro caso, não há nada a fazer; no segundo, sim, pode- se sempre dizer não a essa pessoa. Mas o que acontece é que as pessoas estão na ânsia de encontrar uma relação sem terem anseio e o desejo de se encontrarem a si mesmas”, afirma.
“Certamente que se o fizerem vai ser mais fácil encontrar a pessoa certa. Há dois aspetos a realçar: quanto mais tempo se está com a pessoa errada, menor é a probabilidade de a pessoa certa aparecer; depois, quando estão na melhor versão de si próprias, as pessoas certas aproximam-se e as erradas ficam com medo e fogem. Convém lembrar que as pessoas que gostam de dominar não gostam de pessoas seguras, porque são alvos difíceis”, alerta Eduardo Torgal.
5. Quão importante é a autoestima para as relações amorosas?
“A autoestima é muito importante porque a visão que a pessoa tem de si impacta a relação que tem consigo e consequentemente a que tem com os outros, neste caso, com o(a) seu(sua) parceiro(a)”, responde Joana Gentil Martins
“A literatura cientifica aponta para uma melhoria das relações interpessoais quando há um aumento da autoestima individual, uma vez que a pessoa passa a conseguir expressar-se e comunicar melhor, passa a valorizar o seu tempo individual e em conjunto e vê a relação como algo que a acrescenta, não como algo de que depende”, acrescenta.
6. A falta de autoestima pode arruinar uma relação?
Pode acontecer, se a pessoa, devido à baixa autoestima, “tem ciúmes excessivos, por medo da rejeição e de ficar sozinha; tem dificuldade de expressar o que sente ou as suas necessidades ou de dizer não com medo de não agradar o outro; cancelar ou mudar planos à última hora por medo de não ser aceite ou ser julgada por algum critério (escolha da roupa, escolha do tema a falar, etc.)”, exemplifica a psicóloga.
7. Só podemos amar outra pessoa se nos amarmos primeiro a nós?
“É importante que nos amemos para que o amor pelos outros seja saudável, seja independente. No entanto, conseguimos amar os outros mesmo que em certo momento não nos amemos de forma completa. O ser humano é um ser social, tem necessidade de afeto, de contacto com o outro, de bondade e de amor”, avisa Joana Gentil Martins.
“Aliás, está comprovado através de vários estudos que o exercício dos atos de gentileza ou atos de bondade são uma forma de aumentar a autoestima quer das pessoas que ajudam, quer das pessoas que são ajudadas. Então, dar amor aos outros é também uma forma de nos amarmos a nós próprios e sentirmo-nos bem connosco“, acrescenta.
“Mas o amor por nós é o que terá de ser cultivado e trabalhado, sem dúvida, toda a vida, desde o nascimento até ao último dia, pois somos a nossa relação mais duradoura. Connosco estamos todos os dias, desde o acordar ao deitar. Para mim, amarmo-nos a nós próprios é aceitarmo-nos como somos, mas dando-nos a possibilidade de evoluir; é gostarmos de nós quando as coisas correm bem, mas também quando correm mal”, remata.
8. O(a) nosso parceiro(a) tem de ser o nosso melhor amigo?
“Acho que é importante porque a relação passa por diversos momentos. Há aspetos que particularizam a relação amorosa como a vida sexual, a ligação, o viver debaixo do mesmo teto, mas, mesmo nos momentos em que há menos intimidade, a amizade prevalece e é fundamental saber que se pode contar com o(a) parceiro(a). Pelo contrário, se, quando temos um problema, todas as pessoas à nossa volta nos ajudam
menos a pessoa que vive connosco, não é um bom sinal”, alerta o coach especialista em relacionamentos.
9. O ciúme tem algum benefício?
“A questão é mais quanto é que o ciúme limita as pessoas a estarem inteiras numa relação. Se alguém disser que gosta muito do(a) seu(sua) companheiro(a), mas é-lhe completamente indiferente o que ele ou ela faça, não me parece saudável, pois acabarão por fazer vidas separadas. Quando se gosta de alguém, quer-se preservar essa pessoa”, diz.
“Agora, tem é de ser sempre dentro de um nível de flexibilidade e de liberdade em que ambos possam fazer o que desejam. Um nível de ciúme que seja adequado mantém o empenho do casal para que a relação esteja sempre ativa. Atenção, o ciúme não tem de ser excessivo para estragar uma relação, isso acontece a partir do momento que limita ou condiciona a vida de uma das pessoas, pois passa a ser um processo manipulador e controlador, acabando por destruir as relações e as pessoas”, refere Eduardo Torgal.
10. Qual é o peso das relações passadas nas relações posteriores?
“Pode influenciar positivamente ou negativamente. Se a relação estiver totalmente fechada, terá uma influência positiva. Um bom indício para sabermos se está mesmo fechada é saber o que se sente em relação ao companheiro passado – deve-se sentir agradecimento por essa pessoa ter passado pela nossa vida”, responde Eduardo Torgal.
“Quando há algum tipo de envolvimento emocional por raiva ou rancor, significa que ainda se está muito associado à relação passada. Sempre que isso acontece, o impacto na relação atual é negativo. Por excesso de proteção, acaba-se muitas vezes por querer o mesmo ou o contrário e acaba-se por trazer para o presente as dores da relação passada e, por norma, tenta-se que a outra pessoa seja compensadora das penalizações sentidas nas relações passadas”, adiciona.
“Deve-se, portanto, resolver o passado; o ideal é fazer uma reflexão sobre si próprio e perceber o que fez dentro da relação que não quer repetir e compreender o que levou ao término da mesma”, conclui.
11. Voltar a apaixonar-se pela mesma pessoa é um erro?
“Nessas situações, o meu primeiro conselho é esquecerem que tiveram uma relação no passado, porque, hoje, serão pessoas diferentes. Se tentarem restaurar a relação que já tiveram, é uma questão de tempo até terem as dores que tiveram antes e começar a reviver os traumas do passado”, explica Eduardo Torgal.
“O ideal é conhecer a pessoa novamente voltar a namorar com ela. Do meu ponto de vista, há perguntas muito importantes a fazer: O que é essencial uma relação ter e o que não aceito que uma relação tenha? Caso o(a) parceiro(a) não tiver, pelo menos, quatro respostas em comum, então, a relação dificilmente resultará”, acrescenta.
12. Pode amar-se várias pessoas ao mesmo tempo?
“Há diferentes tipos de amor. Do ponto de vista emocional, quando isso acontece, as perguntas que se pões são: por que preciso dessas pessoas? Em que é cada uma delas completa na minha perceção de amor, uma preenche a intimidade, a outra a amizade e outra a diversão?”, afirma Eduardo Togal.
“Então, talvez seja uma boa estratégia encontrar alguém que preencha todos os requisitos em vez de colmatar as várias necessidades com pessoas diferentes, porque isso vai trazer seguramente dor e sofrimento a várias delas. Quando em causa está o poliamor, tenho uma opinião muito concreta, mas acompanho muitas pessoas que são vítimas daquele, ou seja, não o querem, mas aceitam-no, porque não querem
perder a pessoa que lhes propôs isso. Para mim, o poliamor só existe quando duas pessoas estão sozinhas e se encontrem assumidamente como poliamorosas”, alerta o coach.
13. Num relacionamento, a opinião do outro é muito importante?
“Num relacionamento é importante ter em conta a opinião de ambos, o que querem e de que necessitam. Por isso, a comunicação entre um casal é essencial para a existência de uma relação saudável. É essencial que, na relação, exista espaço para elogiar, agradecer, mas também para pedir desculpa e assumir os erros cometidos”, afirma.
“É importante existir aceitação das diferenças de cada um e principalmente não esperar que o outro saiba as nossas necessidades. Cada pessoa é única e mesmo em casal não é expectável que uma pessoa adivinhe as necessidades da outra; mais uma vez a comunicação tem um papel fundamental. Além da comunicação, saber ouvir com atenção, com respeito e empatia é igualmente importante”, resume Joana Gentil Martins.