O que é a cegueira botânica? (Revista GALILEU)

Cegueira botânica: por que você não sabe o nome da plantinha que nasce na calçada -Marília Marasciulo =>Revista GALILEU

Qual foi a última planta que você viu? E qual o nome daquela florzinha que brota da calçada no caminho que você faz até o trabalho? Se você não se lembra dos detalhes ou sequer sabe o nome das espécies, é possível que também esteja sob influência da cegueira botânica. Esse fenômeno, estudado há pouco mais de duas décadas, define a falta de percepção que temos das plantas em nosso cotidiano. Isso pode nos levar a negligenciá-las, ignorar o papel essencial que desempenham em nossas vidas e, em muitos casos, a considerá-las seres de menor valor que os animais, por exemplo. Mas por que isso importa?

Mais do que uma mera preocupação de botânicos ou “pais de planta”, essa desconexão pode afetar a forma como interagimos com a natureza. “Todo mundo sabe reconhecer um elefante. Mas se digo que uma planta é um ciclame, poucos reconhecem”, explica a bióloga Suzana Ursi, professora do departamento de Botânica do Instituto de Biociências da USP (Universidade de São Paulo). “Se a gente não reconhece o valor e a importância das plantas, ficamos cada vez mais distantes de nos conscientizar e tomar ações para mitigar fenômenos como as mudanças climáticas”, completa a professora, que prefere chamar o fenômeno de “impercepção”, em vez de cegueira.

A dessensibilização em relação a eventos como desmatamentos e queimadas é também um sintoma da cegueira botânica. Apesar de nos sensibilizarmos ao ver animais sofrerem e as consequências amplas para os ecossistemas, não nos preocupamos tanto com as espécies vegetais. Para a professora da USP, essa desconexão afeta campanhas de conservação e investimentos destinados a elas. “Quanto as pessoas investem e doam para campanhas que falam de espécies animais, e quanto para as que falam de vegetais? Quando falamos de investimentos e políticas públicas, o que um parlamentar vai transformar em Projeto de Lei? O que dá mais Ibope?”, questiona a professora.

Na visão da especialista, a resposta passa por jogar luz sobre o fenômeno e ampliar o conhecimento sobre plantas como um todo. Mas a solução definitiva é pelo caminho da educação e da política – e o desafio mais urgente é o currículo brasileiro, especialmente no Ensino Médio.

“Somos o país que detém maior diversidade vegetal do planeta, provavelmente uma das mais ameaçadas, e temos o documento norteador da nossa educação que fala pouquíssimo de plantas”, diz a professora. Se ainda não temos certeza se a cegueira botânica é um fenômeno visual ou cultural, sabemos que, no Brasil, a impercepção parece ser também institucional.

Sensibilizar o olhar dos brasileiros quanto às plantas é tentar derrubar uma visão que persiste há séculos. Por aqui, os primeiros sinais de cegueira botânica remontam à colonização portuguesa. Se as diferentes populações indígenas tinham uma relação íntima com a natureza, a exploração predatória do pau-brasil representou a primeira ruptura bem documentada no território nacional. A árvore que dá nome ao Brasil quase foi considerada extinta no século 20 devido ao desmatamento da Mata Atlântica.

https://revistagalileu.globo.com/ciencia/meio-ambiente/noticia/2025/01/cegueira-botanica-por-que-voce-nao-sabe-o-nome-da-plantinha-que-nasce-na-calcada.ghtml

https://revistagalileu.globo.com/ciencia/meio-ambiente/noticia/2025/01/cegueira-botanica-por-que-voce-nao-sabe-o-nome-da-plantinha-que-nasce-na-calcada.ghtml

Rolar para cima