Como divórcios estão reduzindo a desigualdade de gênero -Helen Eriksson =The Conversation= >BBC News Brasil
Mães solteiras são um dos grupos mais vulneráveis nas sociedades ao redor do mundo. Na Suécia, no entanto, o número de mulheres arcando sozinhas com as responsabilidades de cuidado diminuiu quase pela metade ao longo das últimas duas décadas.
A Suécia não apenas lidera em termos de taxas de divórcio, mas também é líder mundial quando se trata de dividir a guarda das crianças igualmente. Quase metade das crianças com pais separados agora dividem seu tempo igualmente entre os dois lares.
Novo estudo, publicado na revista Social Forces, era para descobrir em qual medida essa mudança notável nos arranjos de vida alterou a divisão de trabalho de cuidado entre os ex-cônjuges.
Partindo da hipótese de que o efeito de tais dissoluções de união pode levar a uma maior igualdade de gênero do que quando as crianças viviam apenas com suas mães.
Ultimamente, a guarda “meio a meio” requer que os pais assumam integralmente a responsabilidade pelo cuidado da criança metade do tempo — algo que poucos pais em parceria fazem. Portanto, isso poderia impulsionar os pais para uma divisão mais igualitária do trabalho de cuidado.
Como medida de trabalho de cuidado, foi examinado uma das desigualdades mais persistentes entre mulheres e homens nos países de alta renda hoje: tirar licença do trabalho remunerado para cuidar de uma criança.
Usando dados de registros administrativos que cobrem toda a população da Suécia — com medidas de licença tanto da mãe quanto do pai de cada criança, tanto antes quanto depois do divórcio.
Os resultados mostram que, na Suécia, o divórcio levou a um aumento na participação dos pais nos dias de folga do trabalho para cuidado.
A conclusão é que, enquanto os divórcios nas últimas décadas haviam atrasado a revolução de gênero na Suécia — com as mães tradicionalmente assumindo toda a responsabilidade — agora estão tendo o efeito contrário.
Não estamos tentando argumentar que o divórcio seja algo bom, diz Helen Eriksson que é pesquisadora de sociologia na Universidade de Estocolmo. Acreditamos, em vez disso, que os divórcios ajudam a expor o lar conjunto como um ambiente altamente marcado pelo gênero.
Casais heterossexuais na Suécia, e mais amplamente ao redor do mundo, tendem a cair em dinâmicas de gerente-auxiliar, em que a mãe assume toda a carga administrativa e mental e delega apenas tarefas específicas para o pai cumprir.
Esta é uma dinâmica que ao longo do tempo parece inevitável e impossível de ser quebrada.
Mas os arranjos de vida “meio a meio” viram essa dinâmica de cabeça para baixo, porque não é mais possível assumir esses papéis fortemente marcados pelo gênero — a mãe não pode planejar a casa de seu ex e o pai não pode esperar que isso aconteça.
A lição é que os homens podem e cuidam de crianças por conta própria. Se os homens suecos conseguem fazer isso, a incapacidade de outros homens não pode ser inevitável.
Homens suecos não têm uma composição biológica diferente dos outros homens, então parece que os estereótipos culturais são os culpados.
Os aumentos no divórcio poderiam mudar atitudes em um nível mais profundo ao longo do tempo. Quanto mais vemos homens cuidando de seus filhos, mais normal isso parecerá.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4nglpl2gjwo