Animais que conseguem detectar doenças em humanos -Jacqueline Boyd =The Conversation=>BBC News Brasil
Quando o assunto é o diagnóstico preciso de uma doença, é fácil imaginar a necessidade de máquinas e equipamentos caros de alta tecnologia, que sejam capazes de examinar profundamente sob a pele para verificar o que está acontecendo no corpo.
É claro que esses aparelhos são incríveis, mas eles não são os únicos instrumentos capazes de detectar doenças. Na verdade, talvez você mesmo tenha dentro de casa um desses poderosos agentes de detecção de enfermidades.
Existem inúmeros casos de incrédulos tutores de animais de estimação que ficaram sabendo pelo seu pet sobre algum problema de saúde. Exemplos incluem cães lambendo, cheirando e até tentando morder pontos da pele do seu dono, que foram posteriormente diagnosticados como melanomas malignos.
De fato, muitas espécies de animais já demonstraram com sucesso sua capacidade de detectar doenças nas pessoas e em amostras biológicas durante experimentos. Eles incluem desde o verme microscópico C. elegans até formigas, camundongos e cães.
Os cães talvez sejam o exemplo mais conhecido de animais que podem detectar uma série de doenças, como o mal de Parkinson, câncer da bexiga e malária.
Crises epilépticas e baixo nível de açúcar no sangue de pacientes diabéticos também podem ser detectados por cães de alerta médico especialmente treinados.
Aparentemente, o impressionante olfato dos cachorros oferece a capacidade de detectar odores específicos, mesmo em concentrações incrivelmente baixas.
De fato, acredita-se que o olfato canino seja mais de 10 mil vezes melhor que o nosso. Eles podem até usar cada narina de forma independente ao procurar novos odores.
Tudo está relacionado com a capacidade de muitos animais de detectar alterações minúsculas do perfil de odores químicos de uma pessoa.
A capacidade de diferentes espécies de usar seu olfato para detectar doenças com precisão pode simplesmente fazer com que o emprego de animais de detecção treinados seja uma forma eficaz, não invasiva, rápida e econômica de analisar condições de saúde específicas. Ela pode até aumentar as interações positivas entre as pessoas e os animais.
Curiosamente, devido às regulamentações existentes, os animais utilizados para detecção de doenças são atualmente considerados simples “ferramentas” de análise, empregadas paralelamente aos métodos de diagnóstico médico. Mas, se as estruturas de regulamentação permitirem, os animais de detecção poderão, um dia, desempenhar papéis centrais no diagnóstico de doenças.
De fato, os cães de detecção foram mais rápidos (e mais baratos) na análise de amostras de covid-19 do que os testes de PCR rotineiros.
Muitas espécies (como os cães, ratos e abelhas) podem detectar mudanças muito sutis em substâncias denominadas compostos orgânicos voláteis (COVs), que são liberados pelo corpo em níveis muito baixos, mesmo quando estão saudáveis.
A respiração exalada pelos seres humanos contém cerca de 3,5 mil COVs diferentes. A composição e a concentração dos COVs liberados pelo corpo se alteram conforme a saúde da pessoa – e será diferente se ela estiver combatendo uma infecção ou enfrentando um problema de saúde.
Explorar as capacidades olfativas dos animais pode ser útil para nós, mas é importante lembrar que a saúde e o bem-estar dos animais envolvidos também devem ser prioridade.
Além das preocupações de custo, segurança e eficiência, é preciso sempre levar em consideração a ética de trabalhar com animais em qualquer programa de análise de doenças em larga escala que envolva a sua participação.
Mas a capacidade de detecção de doenças em animais são existe apenas para benefício humano.
O verme C. elegans consegue detectar câncer, mas não apenas em amostras de seres humanos. Seu olfato superior permite que ele também detecte câncer em amostras de cães e gatos.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cx8235lyv0lo