Notice: Function _load_textdomain_just_in_time was called incorrectly. Translation loading for the file-renaming-on-upload domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/u722949823/domains/felizdianovo.com.br/public_html/wp-includes/functions.php on line 6114
A Revolta de Sísifo: A Felicidade como Ato de Insurgência ( Oliver Harden) - Feliz Dia Novo

A Revolta de Sísifo: A Felicidade como Ato de Insurgência ( Oliver Harden)

A Revolta de Sísifo: A Felicidade como Ato de Insurgência

Albert Camus, ao afirmar que “é preciso imaginar Sísifo feliz”, insere-se no cerne de sua filosofia do absurdo, desafiando-nos a repensar a condição humana diante da aparente falta de sentido do mundo. O mito de Sísifo, condenado eternamente a rolar uma pedra montanha acima apenas para vê-la despencar de volta, simboliza a luta incessante e inútil do homem contra uma existência que não oferece respostas transcendentes. O paradoxo da felicidade nesse contexto absurdo constitui um dos mais instigantes questionamentos filosóficos sobre a liberdade, a resistência e o sentido da vida.

Para Camus, a grande revolução existencial não reside na esperança de um desfecho final que conceda sentido à repetição, mas na aceitação lúcida dessa própria repetição como um ato de insubmissão. O homem, ao reconhecer o absurdo da existência – ou seja, o divórcio entre sua ânsia de sentido e um universo indiferente –, pode responder de duas formas: com o niilismo destrutivo ou com a revolta consciente. Sísifo é a metáfora do homem que, mesmo diante da futilidade de seu esforço, recusa-se a sucumbir ao desespero, encontrando na sua própria luta um espaço para a liberdade. Sua felicidade, portanto, não advém de um consolo metafísico, mas do reconhecimento pleno de sua condição e da decisão de assumir a própria existência sem ilusões.

Esse pensamento ressoa na tradição filosófica que valoriza a autonomia da consciência diante do absurdo. Nietzsche, ao propor o amor fati – o amor ao destino –, antecipa essa aceitação afirmativa da vida, assim como Kierkegaard, ao falar do “salto da fé”, aponta para outra solução possível diante do mesmo dilema. A diferença fundamental entre Camus e Kierkegaard, contudo, reside na recusa do primeiro em aceitar qualquer resposta que ultrapasse a imanência do mundo. Para Camus, o sentido não deve ser buscado fora da existência, mas forjado dentro dela, na experiência concreta da revolta.

Dessa forma, imaginar Sísifo feliz não é um ato ingênuo ou conformista, mas a mais radical das afirmações existenciais. É uma subversão contra a lógica da resignação e um convite para que o homem, ciente da absurdidade de sua condição, encontre na própria jornada a fonte de seu significado. A felicidade de Sísifo não está no fim da escalada, mas no próprio ato de empurrar a pedra – um gesto de insubordinação contra o próprio destino.

Oliver Harden

 

Rolar para cima